Fala, meu povo! Recentemente
chegou à Netflix um filme que deu muito o que falar nos festivais
especializados onde foi exibido, em 2016. Estou falando de Raw, uma coprodução
entre França e Bélgica que aborda um assunto que pode parecer batido no cinema
de horror – o canibalismo – mas de uma forma completamente diferente do que
você imagina. Confiram!
Raw chegou aos Estados
Unidos em março deste ano, tendo seu título alterado para “Grave”. Ele não foi
lançado nos cinemas brasileiros, mas está disponível no catálogo da Netfilx há
pouco tempo, e foi como tive acesso a essa pérola. Vocês devem ter ouvido falar
quase sempre do suposto marketing que acompanha os lançamentos de filmes de
terror, com acontecimentos bizarros que acontecem na sua exibição. No caso de
“Raw”, eu acredito que não seja marketing, pois ele pode ser bastante
desconfortável para os mais sensíveis.
O filme acompanha Justine,
uma garota vegetariana que acaba de ingressar na faculdade de Medicina
Veterinária, onde também estuda sua irmã mais velha Alexa. Ao chegar no local,
se depara com a semana dos trotes, com os veteranos tocando o terror com os
calouros. Em uma “brincadeira” dessas, Justine é obrigada por Alexa a ingerir
rim cru de coelho. A partir daí, ela passa a ter sensações estranhas, como
coceiras extremamente incômodas em sua pele e um desejo assustador por carne, –
humana ou não - e seus colegas passam a
ser o principal aperitivo. Justine também passa a ter Alexa como mentora
passando por um “tratamento” para curar esse mal.
Quem está acostumado com
filmes de terror produzidos nos EUA pode ter estranhado um pouco essa história.
Acontece que Raw não segue esse padrão, tendo uma trama extremamente lenta
focando no desenvolvimento dos personagens para então partir para o horror. Até
atingir a esse ponto, o filme é narrado como um drama, mesmo sem apelar para o
melodrama. Acontece que este filme, apesar de não ser tão violento como o que a
geração acostumada com filmes na mesma pegada de Jogos Mortais, Raw deixa sua
marca com cenas que provocam estranheza e no pior dos casos, incômodos.
Eu disse que esse era um
filme sobre canibalismo, mas ele não segue a linha de Holocausto Canibal,
talvez o mais famoso filme sobre esse assunto. Aqui, esse assunto é
desenvolvido através de simbolismos, ligados ao dilema da juventude, como a transição
de menina para mulher, com mudanças significativas em seu corpo, fortalecendo a
seguinte reflexão: Uma garota virgem sendo colocada em uma selva, onde
prevalece a carnificina e a luta pela sobrevivência. Dessa forma, o filme
representa através do absurdo um retrato sombrio da juventude atual,
fantasiando também a forma como o indivíduo encara as novas mudanças ao seu
redor. Talvez seja por isso que esse filme não tenha agradado os mais jovens,
que preferem ver o sangue espirrar na câmera e a história sendo desenvolvida
rapidamente. Porém, como um admirador de “filmes de doido” (como diz minha mãe)
e sendo cinéfilo por paixão, arrisco dizer que este pode ser um dos melhores da
década.
Se o filme é tão
impressionante assim, isso se deve ao mérito do elenco e da equipe técnica. As
duas atrizes principais, Garance
Marillier (Justine) e Ella Rumpf (Alexa) se mostram bastante competentes ao
entregarem personagens que possuem um misto de cumplicidade e rivalidade,
garantindo ótimas – e estranhas – cenas. “Raw” é dirigido por Julia Ducournau,
que prova ser muito sábia ao conduzir uma história marcada por simbolismos,
apesar de este ser o seu primeiro trabalho nos cinemas como diretora.
Querendo ou não, ainda que
você não tenha gostado do filme, deve admitir que esta é uma história inovadora
e imprevisível, e eu adoro quando isso acontece. Porém, fica aqui um alerta: Não assistam ao
filme de estômago cheio ou se estiverem doentes, pois isso pode gerar uma
grande dor de cabeça. Vale ressaltar também que o filme é inadequado para
menores de 16 anos, por conta de seu conteúdo muito pesado, com algumas cenas
que realmente causam nojo ou provocam a claustrofobia.
No fim, esse filme mostra um
equilíbrio entre o estranho e o belo, com uma trama que chama a atenção, sendo
inovadora e dando vontade de conhecer outras produções estrangeiras. Aliás, se
você está de saco cheio com os torture porns norte-americanos (Ex: O Albergue,
Doce Vingança e cia), sugiro que dê uma chance para “Raw”, um filme que pode
ser o passaporte para que o espectador consiga pensar fora da caixa. De
qualquer forma, vale muito a pena assistir ao filme, nem que seja por
curiosidade, pois garanto que será uma experiência inesquecível – boa ou não.
Espalhe a ideia, comente com os amigos! Compartilhe o que é bom!
Twitter: @oNerdSpeaking
Instagram: NerdSpeaking
SoundCloud: Nerd-Speaking
Facebook: NerdSpeaking
E-mail: nerdspeaking@gmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário
O que você acha? Comenta aí!